terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Coração distante

Coração grita pela distância
A distância grita pela impossibilidade
A impossibilidade grita pela diferença
A diferença grita pela atração
A atração grita por você
Você não grita
Se grita, não escuto
Quero muito escutar
Assim descubro que vontade não é real
Vontade é sonho
Sonho é distância e desejo
Desejo profundo distante
Distancia próxima fisicamente
Distante pela impossibilidade
Coração distante

(Luiz Pires)

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Único eterno olhar

O tempo para diante dos olhos,
quando as palavras cessam em minha boca.
Eu, falante, me vejo mudo e calado.
Penso e não entendo: olho.
Olho para a eternidade impossível.
Olho para os olhos da distância.
Olho para dentro de mim.
Olhar e tempo se confundem,
reverberam no eco da noite escura.
Escuro em que olho e não vejo:
cego e mudo, olho.
Olho para um olhar que me convence.
Sentimento de imensa satisfação,
vivo a força do olhar,
olhar que é único e eterno:
Me focaliza na eternidade,
me faz acreditar no amanhã
que eu não vejo.

(Luiz Pires)

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Acredito

Acredito.
Acredito no sorriso dos jovens acordados.
Acredito nos sonhos vividos desesperadamente.
Acredito em olhares aprendizes interessados.
Acredito no futuro da humanidade próxima.
Acredito na lousa com giz empoeirada.
Acredito nos berros performativos.
Acredito nas piadinhas informativas.
Acredito em uma loucura forjada.
Acredito em palavras certeiras.
Acredito em idéias confusas e delirantes.
Acredito em trocas, relações, vivências.
Acredito nos sentidos produzidos por nós.
Acredito nas produções contemporâneas.
Acredito no homem-menino que me convence.
Acredito na seriedade do brincalhão.
Acredito na realidade imaginária em olhos fechados.
Acredito na canção entoada na noite.
Acredito no fogo em brasas e chamas.
Acredito nos diálogos construtivos.
Acredito na família destruída.
Acredito nos ideais revolucionários.
Acredito na paz que reina no Universo.
Acredito no homem bom.
Acredito na falsa justiça.
Acredito na perversidade que corrompe.
Acredito no vento e na chuva.
Acredito na doença que avassala.
Acredito em muitíssimas outras coisas... e de todas elas, tenho uma certeira conclusão:
O mais importante é acreditar, acreditar e acreditar.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Princesa

Sorriso de menina,
olhar de aprendiz,
jeito de donzela:
é a Bela.

Bela que canta,
Bela que dança,
Bela que brilha,
Bela que vive!

Eis uma bela sem fera,
uma bela princesa
transbordando juventude,
evocando alegria.

Princesa majestosa,
Bela mejestade
do reino de ninguém,
da fantasia imaginária.

Um pra lá, um pra cá!
Dança, princesa!
Avança em seu salão,
rodopia, pula, deslisa...

Canta a poesia que ensinei,
gira na batida deste som,
brilha o fogo do seu olhar,
enche o mundo todo com a emoção:
dos seus (quase) 15 anos!

sábado, 20 de março de 2010

Mar, menino

O mar iluminado pela lua
Brilha nas costas dos seus ombros
Braços abertos chamam a noite
Olhar atento e sossegado
Lua cheia, lobisomem
Homem-menino uivando
Uivando a música da vontade
Vontade de viver
A vida canta o peito
O céu responde o alento
Cantar a vida
Cantar o céu
Cantar a noite
O mar vai, vem, molha
O mar chama e canta
Encanta o olhar
Menino lobisomem
Mar lobismar
O mar uiva o vento
Vento fraco e quente
Água quente molha e esfria
Esfria o céu de luar
Aquece o infinito do céu
Céu e mar unem-se
Um só olhar, um só céu
Um só mar
Mar menino, menino mar.

(Luiz Pires)

domingo, 7 de março de 2010

"O erro dele foi pensar que ainda teria muito tempo para encontrar um amor maior.
O erro dela foi deixar de esquecer que nasceu antes do tempo."
(Cassinha)

Kairós!

TEMPO. Meu tempo, só meu.

Quanto tempo eu tenho?

Agora.

Quanto tempo eu quero?

Agora.

'Quanto tempo o tempo tem?'

Agora.



Tempo agora, tempo instante: tempo.



Marcar o tempo. Viver o tempo. Estar no tempo.

Tempo passa, tempo corre.

Corro no tempo para entrar nele.

Marcá-lo.

Vivê-lo.

Ser o tempo, estar.



Coração de Rilke, o meu.

"Eras o que conheci de mais terno e mais duro com que tenho lutado.
Eras a altura que me abençoou - te fizeste abismo e naufraguei"
(Rainer Maria Rilke)
Como um náufrago:
perdido de meus sentimentos,
confuso, sem direção.
O abismo chama,
não respondo, não vou.
Prazer finito interminável,
por quê?
Quero amor, quero ternura.
Quero amar, quero tremer.
Amo, tremo, terno...
Luto contra o sol,
contra o mar que me engole.
Fraco, perco, não desisto.
Lutar é o importante,
vencer é consequência.
Lutar por amor,
amor próprio.
Amor? Que amor?
Amor de dor de amor.
Fúnebre lembrança dissimulada,
Partido abraço.
Beijo:
no rosto.
Olhar meado,
tentativas, sentimentos, paixão.
Falsa vida.
Senti e desisti de desistir.
Tentei e caí.
Amei. Amei? Amém.
(Luiz Pires)

Juventude amor

Juventude eufórica
única, porém passageira,
lindo tempo eternizado,
imagem de um pequeno que cresce, e cresce muito,
olhar de criança, olhar de adulto.

Olhos atentos na vida,
lábios de quem quer amar,
inquietação presente nos membros,
voz que canta a vida,
elegante postura e sorriso,
intenção de lutar por si,
riso constante,
amor cativante.

(Luiz Pires)

quinta-feira, 4 de março de 2010

Olhos marcantes e palavras dúbias

Olhos marcantes e palavras dúbias
Penetram o meu ser sem saber
Dizem e calam meu coração
Coração inteiro e partido
Lástimas de um sonho bom
Sonho que não acabou, permaneceu.
Grita em meus ouvidos, olhares
Olhares que dizem, e não quero ouvir
Palavras inscritas nos olhos
Olhos ressaltam verdades inacabadas
Verdades tímidas, escondidas, ironizadas.
Mistério poderoso e forte
Força fracamente misteriosa.
Verdade misteriosa semelhante à mentira.
Verdade que não é única,
Mas é dada de um olhar.
Olhar que não é único,
Mas diz o que quer.
Olhos marcantes e palavras dúbias:
dizem e não.
Penetram verdades e mentiras.
Marcam o meu ser sem saber.
Olhares dizem e palavras olham.

(Luiz Pires)

quarta-feira, 3 de março de 2010

Frio...

Céu de inverno,
Gotículas minúsculas de chuva,
Chuvisco gélido.
Frio
Na barriga.
Insegurança, sensações, medo.
Final de tarde,
Cama, coberta, bolinho de chuva.
Avó,
Cheiro de canela.
Segurança.
Abraço, calor, cuidado.
Fogão de lenha.
Vento frio, casa aquecida.
Inverno angustiante.
Desejo de sol,
Vontade de luz.
Cinza incômodo,
Gotículas minúsculas de chuva.
Frio aquecido
Barriga cheia, frio
Na barriga.

(Luiz Pires)

Medo explícito, segredo explícito.

Um segredo explícito,
Não consigo falar,
Tenho medo, muito medo.
Medo de me decepcionar,
medo da exposição,
medo do meu amor,
medo da solidão.
E, por sentir estes medos,
Guardo segredo.
E, em segredo,
Permaneço sem amar,
permaneço solitário,
permaneço exposto a mim mesmo,
permaneço decepcionado.
E todos sabem o meu segredo,
Leem nos meus olhos,
Na ausência de palavras,
No meu medo explícito.

(Luiz Pires)

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O último dia, primeiro dia

Certeza infinita do fim
É o último dia que não acaba.

Hoje acordei certo:
O último é ainda o primeiro.

Primeiro de novas emoções,
Último de emoção verdadeira.

Primeiro e último é cada dia,
Inscrito na minha existência.

Vivo um dia primeiro,
Como se último fosse.

Vivo um dia último,
Como se fosse o primeiro.

(Luiz Pires)

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Quantidade

Pouco, muito, tudo, nada.
Busco uma medida para as coisas
Busco as coisas sem medida.
Busco um equilíbrio que me suporte
Busco a quantidade que me satisfaça.
Busco incessantemente o movimento da vida
Busco sempre, nunca encontro.
Encontro o pouco que não me satisfaz
Encontro o tudo que também não me satisfaz
Não encontro nada
Não sei o que é muito,
Muito menos o que é pouco
O tudo e o nada me rondam
Preciso de outra regra de medida
Pois, dentre pouco, muito, tudo e nada
Para mim tudo é muito pouco!

(Luiz Pires)