sábado, 20 de março de 2010

Mar, menino

O mar iluminado pela lua
Brilha nas costas dos seus ombros
Braços abertos chamam a noite
Olhar atento e sossegado
Lua cheia, lobisomem
Homem-menino uivando
Uivando a música da vontade
Vontade de viver
A vida canta o peito
O céu responde o alento
Cantar a vida
Cantar o céu
Cantar a noite
O mar vai, vem, molha
O mar chama e canta
Encanta o olhar
Menino lobisomem
Mar lobismar
O mar uiva o vento
Vento fraco e quente
Água quente molha e esfria
Esfria o céu de luar
Aquece o infinito do céu
Céu e mar unem-se
Um só olhar, um só céu
Um só mar
Mar menino, menino mar.

(Luiz Pires)

domingo, 7 de março de 2010

"O erro dele foi pensar que ainda teria muito tempo para encontrar um amor maior.
O erro dela foi deixar de esquecer que nasceu antes do tempo."
(Cassinha)

Kairós!

TEMPO. Meu tempo, só meu.

Quanto tempo eu tenho?

Agora.

Quanto tempo eu quero?

Agora.

'Quanto tempo o tempo tem?'

Agora.



Tempo agora, tempo instante: tempo.



Marcar o tempo. Viver o tempo. Estar no tempo.

Tempo passa, tempo corre.

Corro no tempo para entrar nele.

Marcá-lo.

Vivê-lo.

Ser o tempo, estar.



Coração de Rilke, o meu.

"Eras o que conheci de mais terno e mais duro com que tenho lutado.
Eras a altura que me abençoou - te fizeste abismo e naufraguei"
(Rainer Maria Rilke)
Como um náufrago:
perdido de meus sentimentos,
confuso, sem direção.
O abismo chama,
não respondo, não vou.
Prazer finito interminável,
por quê?
Quero amor, quero ternura.
Quero amar, quero tremer.
Amo, tremo, terno...
Luto contra o sol,
contra o mar que me engole.
Fraco, perco, não desisto.
Lutar é o importante,
vencer é consequência.
Lutar por amor,
amor próprio.
Amor? Que amor?
Amor de dor de amor.
Fúnebre lembrança dissimulada,
Partido abraço.
Beijo:
no rosto.
Olhar meado,
tentativas, sentimentos, paixão.
Falsa vida.
Senti e desisti de desistir.
Tentei e caí.
Amei. Amei? Amém.
(Luiz Pires)

Juventude amor

Juventude eufórica
única, porém passageira,
lindo tempo eternizado,
imagem de um pequeno que cresce, e cresce muito,
olhar de criança, olhar de adulto.

Olhos atentos na vida,
lábios de quem quer amar,
inquietação presente nos membros,
voz que canta a vida,
elegante postura e sorriso,
intenção de lutar por si,
riso constante,
amor cativante.

(Luiz Pires)

quinta-feira, 4 de março de 2010

Olhos marcantes e palavras dúbias

Olhos marcantes e palavras dúbias
Penetram o meu ser sem saber
Dizem e calam meu coração
Coração inteiro e partido
Lástimas de um sonho bom
Sonho que não acabou, permaneceu.
Grita em meus ouvidos, olhares
Olhares que dizem, e não quero ouvir
Palavras inscritas nos olhos
Olhos ressaltam verdades inacabadas
Verdades tímidas, escondidas, ironizadas.
Mistério poderoso e forte
Força fracamente misteriosa.
Verdade misteriosa semelhante à mentira.
Verdade que não é única,
Mas é dada de um olhar.
Olhar que não é único,
Mas diz o que quer.
Olhos marcantes e palavras dúbias:
dizem e não.
Penetram verdades e mentiras.
Marcam o meu ser sem saber.
Olhares dizem e palavras olham.

(Luiz Pires)

quarta-feira, 3 de março de 2010

Frio...

Céu de inverno,
Gotículas minúsculas de chuva,
Chuvisco gélido.
Frio
Na barriga.
Insegurança, sensações, medo.
Final de tarde,
Cama, coberta, bolinho de chuva.
Avó,
Cheiro de canela.
Segurança.
Abraço, calor, cuidado.
Fogão de lenha.
Vento frio, casa aquecida.
Inverno angustiante.
Desejo de sol,
Vontade de luz.
Cinza incômodo,
Gotículas minúsculas de chuva.
Frio aquecido
Barriga cheia, frio
Na barriga.

(Luiz Pires)

Medo explícito, segredo explícito.

Um segredo explícito,
Não consigo falar,
Tenho medo, muito medo.
Medo de me decepcionar,
medo da exposição,
medo do meu amor,
medo da solidão.
E, por sentir estes medos,
Guardo segredo.
E, em segredo,
Permaneço sem amar,
permaneço solitário,
permaneço exposto a mim mesmo,
permaneço decepcionado.
E todos sabem o meu segredo,
Leem nos meus olhos,
Na ausência de palavras,
No meu medo explícito.

(Luiz Pires)